A Casa Une inaugurou seu cineclube com a pré-estreia nacional da animação Nayola – Em Busca De Minha Ancestralidade. Vencedora do Prêmio do Público na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2022, entre outras premiações, o filme dirigido pelo português José Miguel Ribeiro é uma adaptação do conto “A Caixa Preta”, dos escritores Mia Couto e José Eduardo Agualusa, que escreveram o roteiro da animação com Virgílio Almeida.
A escolha de Nayola para abrir as atividades do Cineclube Casa Une tem uma razão. Todas as ações do hub – sejam programas de formação, exposições, seminários, oficinas e eventos de formação de leitores na biblioteca e exibições de filmes – se baseiam no tripé Inovação, Conhecimento e Negócios e não à toa a animação se encaixa na aba Conhecimento.
O pensador francês Edgar Morin, um dos pais intelectuais da Casa Une, sempre destacou a importância da diversidade como um conceito amplo. Um conceito que apresenta um olhar diverso e aberto a outras vozes e formas de olhar o mundo e de conhecer as coisas.
Essas aberturas alargam o diálogo e apresentam novas maneiras de entender a vida, e a animação Nayola atua como emissária dessa mensagem. A história sobre três mulheres de uma mesma família – mãe, filha e neta – se passa durante a guerra da independência de Angola (1975-2002) e, no pano de fundo, mostra uma forma mítica de ver o mundo a partir do povo bantos.
O moçambicano Mia Couto e o angolano José Eduardo Agualusa são bem conhecidos pelos brasileiros e têm uma relação de grande proximidade com nosso país. Os conflitos em Angola e Moçambique são tema frequente das obras de ambos, que se uniram para escrever o livro de contos “O Terrorista Elegante e Outras Histórias” (Tusquets), onde Nayola foi publicado.
A exibição da animação no Cineclube Casa Une também celebra a relação profunda e secular entre Brasil e Angola. Em um primeiro momento, com os escravizados sendo trazidos para o Brasil, depois com a vinda de refugiados da guerra de Angola e por fim com o Brasil sendo o primeiro país do mundo a reconhecer a independência de Angola.
Esses aspectos não só criaram como mantêm firme a ponte Angola-Brasil, sustentada em parte pelas relações artístico-culturais entre os dois países, especialmente por meio da música. Os compositores Martinho da Vila e Gilberto Gil ajudaram a fortalecer essa relação. Martinho, inclusive, criou projetos de intercâmbio musical entre as duas nações, a exemplo do Projeto Kalunga. Realizado nos anos 1980, levou o samba para a África e trouxe para nossas terras a quizumba, gênero musical muito popular em Angola.
Além da importância que os povos africanos, sobretudo os bantos, tiveram na constituição das identidades brasileiras, há uma proximidade cultural entre Brasil e Angola. A própria palavra kalunga, derivada do vocabulário bantos e que significa lugar sagrado, foi incorporada ao vocabulário brasileiro, também formado por influência dos povos escravizados.
Nayola marca a inauguração do Cineclube Casa Une em grande estilo, ao reiterar o nosso compromisso com a diversidade em todos os sentidos. A partir de 2025 o cineclube terá uma programação regular, já que o cinema é mais que diversão. É uma maneira de entender, conhecer e explicar o mundo, e de construir um sólido e vasto repertório.