Artigo As competências que um executivo precisa desenvolver

As competências que um executivo precisa desenvolver

Especialista em educação, Claudio de Moura Castro explica porque é importante investir em soft skills

O economista Claudio de Moura Castro se especializou em educação. Lecionou em importantes universidades do Brasil e do mundo, entre elas, a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, a Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, a Universidade de Brasília, a Universidade de Chicago, a Universidade de Genebra e a Universidade da Borgonha. Atualmente, é diretor pedagógico da EduQualis e colunista da revista Veja. 

Entre os diversos livros que escreveu, a maioria sobre educação, destaca-se “Meio Século no Limiar do Perigo” (Record), uma autobiografia sobre suas viagens e aventuras que questiona o estilo de vida do homem moderno.

Moura Castro tem uma visão muito bem fundamentada sobre a importância de o indivíduo lapidar seus saberes além da sala de aula. O conhecimento técnico (hard skills) é importante e imprescindível para qualquer profissional, entretanto, no mundo atual as soft skills, que compreendem habilidades socioemociomais e repertório vasto, têm cada vez mais valor no universo do trabalho.

Anos atrás o economista concedeu uma entrevista à revista da Escola Superior de Propaganda e Marketing e explicou porque as lideranças devem investir em uma formação multidisciplinar. Confira os principais trechos da conversa:

Quais competências o executivo mais precisa desenvolver?

O executivo, antes de tudo, tem de ser bem formado. Precisa entender o que leu. Saber escrever. Ser culto. Tem de ler literatura, porque os grandes problemas da humanidade não estão nos livros de ciência. Estão nos livros de ficção.

 

As empresas culpam as universidades por não lhes entregar os executivos do futuro com um sentido claro de responsabilidade, compromisso, amor ao trabalho árduo, ética pessoal e social? 

As escolas erram quando querem que as pessoas tenham valores e, então, ensinam valores. Como se aprendem esses valores? Com aquilo que a própria escola pratica. A instituição ensina valores ao praticá-los. Você aprende valores nos clássicos, na grande literatura. Robert Coles, professor de Harvard, diz o seguinte: se você quer ler alguma coisa que vá desenvolver o seu sentido de valor, nunca será o catecismo e sim as narrativas. Existem escolas, nos Estados Unidos, que têm cursos de ética para os quais convidam pessoas para falar de problemas éticos que tiveram, para discutir como lidaram com as crises que enfrentaram. Não ensinam valores e ética.

 

Ou seja, expõem o aluno à natureza humana…

À natureza humana. Lendo os clássicos, Shakespeare, Dom Quixote… As nossas escolas superiores nunca fizeram uso da grande literatura. Essa é a base do ensino inglês e americano. Nossos cursos de business estão fazendo o que podem, que é ensinar aquilo que precisa ser ensinado, que está claramente especificado. Mas eles não estão ensinando aquilo que devia ter sido ensinado na graduação. 

 

Num curso para executivos, isso é ainda mais difícil.

Ainda assim, lembro-me do seminário executivo do Aspen Institute. Ele foi criado pelo filósofo Mortimer Adler (que foi o editor geral da Enciclopédia Britânica) na década de 1950. São duas semanas de internato lendo os clássicos e discutindo. E é um curso para executivos. Eu fiz esse seminário. É um privilégio maravilhoso. Você passa a tarde inteira lendo o que vai discutir no dia seguinte, quando chega um moderador e diz: “Do que vocês leram de Aristóteles, o que ressoa como sendo algo que faz parte da sua experiência?” O que eu tirei de Aristóteles, Marx, Freud, Adam Smith? Você lê pequenos trechos e passa cinco horas discutindo.

 

Nos cargos de liderança que ocupou, que tipo de competência você sentiu que precisaria desenvolver e como foi atrás disso?

Quando assumi a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) eu não tinha grande experiência administrativa. Meus amigos da área me deram um livro do Peter Drucker. Eu li e aprendi muito. Ele diz o seguinte: “O ritmo de decisões que um executivo tem de tomar é tal que, se ele parar para pensar muito, trava o processo. Então, ele tem de tomar decisões pela inspiração do momento. Mas não na área de pessoal. Na área de pessoal, pense muito bem antes de tomar decisões, porque as repercussões são enormes”. Do ponto de vista intelectual, estava bem equipado para as posições que ocupei. O grande problema é lidar com a burocracia pública ou internacional. Aí é que estão os desafios.

 

O que acontece?

Quando entra numa reunião, você sabe muito mais do que os seus interlocutores, tem um tremendo sentimento de superioridade em relação ao seu domínio do tema e a certeza absoluta de que o burocrata que está ali vai te engolir no fim daquele encontro. Porque ele domina a máquina. A fragilidade diante do domínio desse segundo escalão talvez tenha sido o que mais me chamou a atenção.

 

Qual é a sua opinião sobre a simbiose entre trabalho e teoria aprendida em cursos?

A teoria existe para ser aplicada no mundo real. A ideia ocidental de ciência, que começa com Francis Bacon, é que você formula uma ideia, que pode ou não ser maluca, mas que só sobrevive se você for perguntar ao mundo real se ele está de acordo com ela. Esse processo é que completa a dualidade da ciência. Se você ficar só no pensar, está fazendo meia ciência. É o que faz muito cientista de terceira categoria.

Foto Jair Marcatti, curador da Casa Une

Jair Marcatti

Curador

Sociólogo e historiador foi professor de Cerimonial e Protocolo e de Diplomacia Cultural do curso de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM).

Nessa mesma instituição, coordenou o Programa Cultura e Comportamento do Curso de Relações Internacionais — um espaço de debates e disseminação de cultura e conhecimento ligados às práticas diplomáticas, visando proporcionar aos estudantes formação complementar e familiaridade com temas e situações vividas nos ambientes corporativos e das agências e organismos internacionais.

Também lecionou Etiqueta Corporativa dos Cursos de Férias da ESPM-SP. Elaborou e participou de uma série de programas de treinamento de Etiqueta Corporativa para várias empresas e instituições, como Vivo, Oi, Itaú, Santander, Bradesco, Mercedes-Benz, General Motors e Grupo Unilever.

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