Em 2012 Byung-Chul Han, filósofo sul-coreano radicado na Alemanha, lançou um livro chamado “A Sociedade do Cansaço”, que levou seu nome para a galeria dos grandes pensadores do mundo contemporâneo. A obra ganhou traduções em todo o mundo e foi apontada por críticos, jornalistas e resenhadores como um dos grandes livros do século XXI, até o momento.
No ano de 2023, o autor lançou “O Espírito da Esperança – Contra a Sociedade do Medo. Editado em 2024 no Brasil, o livro discorre sobre uma temática muito atual, na qual Han cita que “a competição total e a crescente pressão por desempenho erodem a comunidade. O medo onipresente de hoje não decorre realmente de uma catástrofe permanente. Somos afligidos sobretudo por medos difusos que são estruturalmente condicionados e, portanto, não podem ser atribuídos a eventos concretos”. Em outras palavras, significa que tudo hoje é desempenho, seja na vida profissional, seja na pessoal, e isso impacta a vida em comunidade.
Han aponta que transtornos de personalidade, TDH, depressão, hiperatividade e outros distúrbios emocionais são problemas contemporâneos que não se devem a uma questão do indivíduo, mas a um desarranjo social, a um desencaixe de vida e de comportamento que produz doenças emocionais.
Essa visão é corroborada por outros pensadores, mas Han apresenta suas ideias com muita clareza para levantar reflexões sobre o fato de que grande parte desses transtornos reflete um descompasso no funcionamento da sociedade. Quando uma pessoa faz um tratamento individual com medicamentos, por exemplo, isso é um paliativo para questões muito mais profundas que não estão sendo abordadas.
O autor alerta para a falta de uma relação com outro e de construção de um espírito comunitário, em um movimento que sai do individualismo para o coletivo, em um ato de esperança. Entretanto, esperança é diferente de otimismo. O mundo de hoje, afirma Han, sofre de excesso de positividade e de discursos motivacionais que estão na base da sociedade do cansaço, que sempre se vê às voltas com exigências como estar motivado, ser excessivamente positivo e feliz para conquistar o sucesso.
Esse não é o caminho da esperança. Ao contrário, a construção de uma esperança que leva as pessoas a deixarem os medos para trás, acontece pela recuperação de um espírito de comunidade e pela possibilidade de se resgatar a humanidade.
Os antídotos contra a sociedade do cansaço são a busca do belo, a busca de Heros, deus grego do amor, a busca da estética e a busca do silêncio – esses são os quatro elementos que Han entende como capazes de produzir esperança e frear os avanços da sociedade do cansaço, permitindo que o indivíduo desenvolva a capacidade de se conectar com si próprio.
Casa Une Indica “O Desaparecimento dos Rituais” (Vozes), Byung-Chul Han